Amalá Para Xangô
O que significa servir um amalá para Xangô?
 
Xangô, que nos rituais  gege-nagô é o Orixa da justiça, do 
equilíbrio, aquele que decide o certo e o errado, sendo representado 
principalmente pelo seu raio e o oxé (espécie de machado que corta dos 
dois lados, como a justiça deve ser, neutra e imparcial).
 
Possui como principal comida ritual o Amalá,  por isso 
chamada de comida de axé, que deve ser colocado em gamela, quando 
possível, preparado por um filho de Xangô. Servir o Amalá é sempre um 
momento de muita emoção, e deve ser de união também, é quando temos a 
oportunidade de  poder compartilhar do axé deste Orixá, com todos os 
presentes, é se encher de alegrias e forças a cada novo dia, é ter a 
certeza que Xangô está presente em todos os nossos momentos, nos 
acompanhando em cada decisão, em cada novo passo em nossa vida diária.
 Quando for servido em um Xirê, o preparo do Amalá deve 
iniciar no dia anterior, com a maceração da mostarda (macerada para 
reduzir o amargo, característico da folha), para no dia seguinte um 
filho de Xangô (se houver) fazer o preparo do pirão (preparado a partir 
de farinha de mandioca crua) e do molho para ser servido. O molho, com a
 mostarda (folha) é servido sobre o pirão.
Nos rituais gêge-nagô a culinária é de 
extrema importância, pois o Orixá já está do lado de quem prepara, 
observando o carinho dispensado, a atenção dada e a dedicação do preparo
 inicial até a entrega do axé. Não basta fazer, é preciso fazer certo, 
sem esperar receber nada em troca por isso. É o que chamamos de amor, 
pelo Orixá, pela religião. 
Mais do que servir uma linda oferenda, o "seu
 coração, deve estar puro",  lembrando que o Orixá sabe quando estamos 
fazendo com o coração, pois não adianta fazer como alguns filhos e Pais 
de Santo (que nem poderiam ser chamados de Pai) que pedem e abençoam 
seus filhos pela boca (na frente de outros, para mostrar uma máscara, 
aquilo que não são) , e pelas costas cortam muitas aves e fazem feitiços
 para prender seus filhos. A hipocrisia e o desrespeito com os Orixás é o
 maior problema do batuque. A doença e os problemas futuros que estes 
recebem é a certeza que o Orixá tudo enxerga e tudo sentencia, nos 
mostra que Xangô é imparcial, retirando destas casas todos seus filhos 
que foram vítimas  das artimanhas de alguns.
Segundo DaMata (2001), existe diferença entre
 alimento e comida, e esta última é capaz de identificar quem a come, 
conforme citação apud de Maciel (2005)
"Dize-me o que comes e te direi qual deus 
adoras, sob qual latitude vives, de qual cultura nasceste e em qual 
grupo social te incluis. A leitura da cozinha é uma fabulosa viagem na 
consciência que as sociedades têm delas mesmas, na visão que elas têm de
 sua identidade”.
          (MACIEL, 2005, p. 50).
O Amalá, identifica Xangô na comunidade onde 
ele está inserido, fortifica o seu axé, identifica seus membros, e 
cumpre um compromisso social, pois em um Xirê é aberto a toda a 
comunidade.
Poder participar é ter a possibilidade de 
alimentar a sua fé a cada dia. Assim como é fornecido alimento ao corpo,
 a fé, é o alimento oferecido ao sagrado. Compartilhar o alimento com o 
sagrado é ter a possibilidade, e ser servido do mesmo alimento que é 
ofertado ao Orixá, neste caso Xangô.  
Quando é degustado pela comunidade e filhos de santo, 
estamos não somente ingerindo um alimento, mas também resgatando uma 
ancestralidade, estamos desenvolvendo nossa humildade, já que na 
sociedade atual não comemos com as mãos, comemos o amalá com as mãos em 
respeito a Xangô, em respeito aos Orixás e a religião africana.
É crucial que para participar deste ritual os participantes 
estejam puros, pois sendo Xangô o Orixá da balança, do equilíbrio ele 
busca a justiça onde ela estiver, inclusive quando seus filhos erram, 
pois a justiça é feita onde estiver.
Em todo o lugar onde estiver um Babalorixá, uma Yalorixá ou 
mesmo uma pessoa não iniciada, com certeza, estará também cultuando e 
resgatando a ancestralidade africana.
É imprescindível que o preparo do Amalá seja realizado com 
dedicação e pureza no coração, é necessário estar em sintonia com seu 
Orixá, e esta sintonia somente é alcançada com carinho de quem está 
preparando o Amalá.
O ritual do Amalá é a oportunidade que todos tem de 
compartilhar momentos de muita fé e agradecer a Xangô, além de fazer 
seus pedidos e fortalecer o axé.
Pois o axé é fortalecido com ações corretas a cada dia, axé é uma 
força, que segundo Santos (2008) "como toda força, pode diminuir ou 
aumentar. Essas variações estão determinadas pela atividade e condutas 
rituais".
Daí a importância de uma conduta correta e adequada a 
religião africana. Não basta ser de religião é preciso viver a religião,
 e a religião é vivida através de ações diárias com os Orixas, quando se
 prejudica um filho do axé, estamos prejudicando seu Orixá.
O Amalá para Xangô é o momento onde todos se reunem para 
desenvolver ainda mais a sua fé, desenvolver o axé e resgatar a 
ancestralidade de cada um.
Orixá é alegria, é paz e tranquilidade especialmente Xangô, orixá da
 justiça e do equilíbrio, capaz de tomar decisões certas onde nós não 
teríamos condições.
Neste sentido o Amalá para Xangô é o momento onde Xangô 
recebe todos os seus filhos, e os mostra o caminho certo, pois como Pai,
 ele educa, corrige e faz com que seus filhos andem e se desenvolvam a 
cada dia mais em toda a sua plenitude.
 
 
 
 
          
      
 
  
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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