Exu é o orixá da comunicação. É o guardião das aldeias, cidades, casas e do axé, das coisas que são feitas e do comportamento humano. A palavra Èsù em yorubá significa “esfera” e, na verdade, Exu é o orixá do movimento.
Ele é quem deve receber as oferendas em primeiro lugar a fim de assegurar que tudo corra bem e de garantir que sua função de mensageiro entre o Orun e o Aiye, mundo material e espiritual, seja plenamente realizada. Na África na época das colonizações, o Exu foi sincretizado erroneamente com o diabo cristão
pelos colonizadores, devido ao seu estilo irreverente, brincalhão e a
forma como é representado no culto africano, um falo humano ereto,
simbolizando a fertilidade. Por ser provocador, indecente, astucioso e
sensual é comumente confundido com a figura de Satanás, o que é um absurdo dentro da construção teológica yorubá, posto que não está em oposição a Deus,
muito menos é considerado uma personificação do Mal.Mesmo porque nesta
religião não existem diabos ou mesmo entidades encarregadas única e
exclusivamente por coisas ruins como fazem as religiões cristãs, estas pregam que tudo o que acontece de errado é culpa de um único ser que foi expulso, pelo contrário na mitologia yoruba, bem como no candomblé cada uma das entidades (Orixás) tem sua porção positiva e negativa assim como o próprio ser humano.
De carácter irascível, ele se satisfaz em provocar disputas e
calamidades àquelas pessoas que estão em falta com ele. No entanto, como
tudo no universo, possui de um modo geral dois lados, ou seja: positivo e negativo. Exu também funciona de forma positiva quando é bem tratado. Daí ser Exu considerado o mais humano dos orixás, pois o seu carácter lembra o do ser humano que é de um modo geral muito mutante em suas acções e atitudes.
Conta-se na Nigéria que Exu teria sido um dos companheiros de Oduduà quando da sua chegada a Ifé e chamava-se Èsù Obasin. Mais tarde, tornou-se um dos assistentes de Orunmilá e ainda Rei de Ketu,
sob o nome de Èsù Alákétú. A palavra elegbara significa “aquele que é
possuidor do poder (agbará)” e está ligado à figura de Exu. Um dos
cargos de Exu na Nigéria, mais precisamente em Oyó,
é o cargo denominado de Èsù Àkeró ou Àkesán, que significa "chefe de
uma missão", pois este cargo tem como objetivo supervisionar as
atividades do mercado do rei.
Exu praticamente não possui ewós ou quizilas. Aceita quase tudo que lhe oferecem.
Os yorubás cultuam Exu em um pedaço de pedra porosa chamada Yangi, ou fazem um montículo grotescamente modelado na forma humana com
olhos, nariz e boca feita de búzios. Ou ainda representam Exu em uma
estatueta enfeitada com fileiras de búzios tendo em suas mãos pequeninas
cabaças onde ele, Exu, carrega diversos pós de elementais da terra
utilizados de forma bem precisa, em seus trabalhos. Exu tem a capacidade
de ser o mais sutil e astuto de todos os orixás. E quando as pessoas
estão em falta com ele, simplesmente provoca mal entendidos e discussões
entre elas e prepara-lhes inúmeras armadilhas. Diz um orìkì
que: “Exu é capaz de carregar o óleo que comprou no mercado numa
simples peneira sem que este óleo se derrame”. E assim é Exu, o orixá
que faz: O erro virar acerto e o acerto virar erro. Èsù Alákétú
possui essa denominação quando Exu, através de uma artimanha, conseguiu
ser o Rei da região, tornando-se um dos Reis de Ketu. Sendo que as
comunidades dessa nação no Brasil, o reverenciam também com este nome.
Todos os assentamentos de Exu
possuem elementos ligados às suas atividades. Atividades múltiplas que o
fazem estar em todos os lugares: a terra, pó, a poeira vinda dos
lugares onde ele atuará. Ali estão depositados como elemento de força
diante dos pedidos.
Exu leva aos homens o oráculo de Ifá
Em épocas remotas os deuses passaram fome. Às vezes, por longos períodos, eles não recebiam bastante comida de seus filhos que viviam na Terra. Os deuses cada vez
mais se indispunham uns com os outros e lutavam entre si guerras
assombrosas. Os descendentes dos deuses não pensavam mais neles e os
deuses se perguntavam o que poderiam fazer. Como ser novamente
alimentados pelos homens ? Os homens não faziam mais oferendas e os
deuses tinham fome. Sem a protecção dos deuses, a desgraça tinha se
abatido sobre a Terra e os
homens viviam doentes, pobres, infelizes. Um dia Exu pegou a estrada e
foi em busca de solução. Exu foi até Yemanjá em busca de algo que
pudesse recuperar a boa vontade dos homens. Yemanjá lhe disse: "Nada
conseguirás. Xapanã já tentou afligir os homens com doenças, mas eles
não vieram lhe oferecer sacrifícios".
Yemanjá disse: "Exu matará
todos os homens, mas eles não lhe darão o que comer. Xangô já lançou
muitos raios e já matou muitos homens, mas eles nem se preocupam com
ele. Então é melhor que procures solução em outra direcção. Os homens
não tem medo de morrer. Em vez de ameaçá-los com a morte, mostra a eles alguma coisa que seja tão boa que eles sintam vontade de tê-la. E que, para tanto, desejem continuar vivos".
Exu retornou o seu caminho e foi procurar Orungã. Orungã lhe disse: "Eu sei por que
vieste. Os dezasseis deuses tem fome. É preciso dar aos homens alguma
coisa de que eles gostem, alguma coisa que os satisfação. Eu conheço
algo que pode fazer isso. É uma grande coisa
que é feita com dezasseis caroços de dendê. Arranja os cocos da
palmeira e entenda seu significado. Assim poderás conquistar os homens".
Exu foi ao local onde havia palmeiras e conseguiu ganhar dos macacos dezasseis cocos. Exu pensou e pensou, mas não atinava no que fazer com
eles. Os macacos então lhe disseram: "Exu, não sabes o que fazer com
os dezasseis cocos de palmeira? Vai andando pelo mundo e em cada lugar
pergunta o que significam esses cocos de palmeira. Deves ir a dezasseis
lugares para saber o que significam esses cocos de palmeira. Em cada um
desses lugares recolheras dezasseis odus. Recolherás dezasseis
histórias, dezasseis oráculos. Cada história tem a sua sabedorias,
conselhos que podem ajudar os homens.
Vai juntando os odus e ao final de um ano terás aprendido o suficiente.
Aprenderás dezasseis vezes dezasseis odus. Então volta para onde moram
os deuses. Ensina aos homens o que terás aprendido e os homens irão
cuidar de Exu de novo".
Exu fez o que lhe foi dito e retornou ao
Orun, o Céu dos Orixás. Exu mostrou aos deuses os odus que havia
aprendido e os deuses disseram: "Isso é muito bom".
Os deuses, então, ensinaram o novo saber aos seus descendentes, os
homens. Os homens então puderam saber todos os dias os desígnios dos
deuses e os acontecimentos do porvir. Quando jogavam os dezasseis cocos
de dendê e interpretavam o odu que eles indicavam, sabiam da grande
quantidade de mal que havia no futuro. Eles aprenderam a fazer
sacrifícios aos Orixás para afastar os males que os ameaçavam. Eles
recomeçavam a sacrificar animais e a cozinhar suas carnes para os
deuses. Os Orixás estavam satisfeitos e felizes. Foi assim que Exu
trouxe aos homens o If'á.
Ogum (em
yoruba: Ògún) é, na
mitologia yoruba, o
orixá ferreiro, senhor dos
metais. O próprio Ogum
forjava suas
ferramentas, tanto para a
caça, como para a
agricultura, e para a
guerra. Na
África seu culto é restrito aos homens, e existiam templos em
Ondo,
Ekiti e
Oyo. Era o filho mais velho de
Oduduwa, o fundador de
Ifé, identificado no jogo do
merindilogun pelos odu
etaogunda,
odi e
obeogunda, representado materialmente e imaterial pelo candomblé, através do assentamento sagrado denominado
igba ogun.
Ogum é considerado o primeiro dos orixás a descer do Orun (o céu), para o Aiye (a Terra), após a criação, um dos semideuses visando uma futura vida humana. Em comemoração a tal acontecimento, um de seus vários nomes é Oriki ou Osin Imole, que significa o "primeiro orixá a vir para a Terra".
Ogum foi provavelmente a primeira divindade cultuada pelos povos yorubá da África Ocidental. Acredita-se que ele tenha wo ile sun, que significa "afundar na terra e não morrer", em um lugar chamado 'Ire-Ekiti'.
É também chamado por Ògún, Ogoun, Gu, Ogou, Ogun e Oggún.
Na
Terra criada por Obatalá, em Ifé, os orixás e os seres humanos
trabalhavam e viviam em igualdade. Todos caçavam e plantavam usando
frágeis instrumentos feitos de madeira, pedra ou metal mole. Por isso o
trabalho exigia grande esforço. Com o aumento da população de Ifé, a
comida andava escassa. Era necessário plantar uma área maior. Os orixás
então se reuniram para decidir como fariam para remover as árvores do
terreno e aumentar a área de lavoura. Ossain, o orixá da medicina,
dispôs-se a ir primeiro e limpar o terreno. Mas seu facão era de metal
mole e ele não foi bem sucedido. Do mesmo modo que Ossain, todos os
outros Orixás tentaram, um por um, e fracassaram na tarefa de limpar o
terreno para o plantio. Ogun, que conhecia o segredo do ferro, não tinha
dito nada até então. Quando todos os outros Orixás tinham fracassado,
Ogun pegou seu facão, de ferro, foi até a mata e limpou o terreno. Os
Orixás, admirados, perguntaram a Ogun de que material era feito tão
resistente facão. Ogun respondeu que era o ferro, um segredo recebido de
Orunmilá. Os Orixás invejaram Ogun pelos benefícios que o ferro trazia,
não só à agricultura, como à caça e até mesmo à guerra. Por
muito tempo os Orixás importunaram Ogun para saber do segredo do ferro,
mas ele mantinha o segredo só para si. Os Orixás decidiram então
oferecer-lhe o reinado em troca do que ele lhes ensinasse tudo sobre
aquele metal tão resistente. Ogun aceitou a proposta. Os humanos também
vieram a Ogun pedir-lhe o conhecimento do ferro. E Ogun lhes deu o
conhecimento da forja, até o dia em que todo caçador e todo guerreiro
tiveram sua ança de ferro. Mas, apesar de Ogun ter aceitado o comendo
dos Orixás, antes de mais nada ele era um caçador. Certa ocasião, saiu
para caçar e passou muitos dias fora numa difícil temporada. Quando
voltou da mata, estava sujo e maltrapilho. Os Orixás não gostaram de ver
seu líder naquele estado. Eles o desprezaram e decidiram destituí-lo do
reinado. Ogun se decepcionou com os Orixás, pois, quando precisaram
dele para o segredo da forja, eles o fizeram rei e agora dizem que não
era digno de governá-los. Então Ogun banhou-se, vestiu-se com folhas de
palmeira desfiadas, pegou suas armas e partiu. Num lugar distante
chamado Irê, construiu uma casa embaixo da arvore de Acoco e lá
permaneceu. Os humanos que receberam deOgun o segredo do ferro não o
esqueceram. Todo mês de dezembro, celebravam a festa de Uidê Ogun.
Caçadores, guerreiros, ferreiros e muitos outros fazem sacrifícios em
memória de Ogun. Ogun é o senhor do ferro para sempre.
Oxóssi, do iorubá Òsóòsì, é um orixá da caça e da fartura, identificado no jogo do merindilogun pelo odu obará e representado nos terreiros de candomblé pelo igba oxóssi.
Durante a diáspora negra, muitos escravos que cultuavam Oxóssi não
sobreviveram aos rigores do tráfico negreiro e do cativeiro, mas, ainda
assim, o culto foi preservado no Brasil e em Cuba pelos sacerdotes sobreviventes e Oxóssi se transformou, no Brasil, num dos orixás mais populares, tanto no candomblé, onde se tornou o rei da nação Ketu, quanto na umbanda,
onde é patrono da linha dos caboclos, uma das mais ativas da religião.
Seu habitat é a floresta, sendo simbolizado pela cor verde na umbanda, e
recebendo a cor azul clara no candomblé, mas podendo usar, também, a
cor prateada nesse último. Sendo assim, roupas, guias e contas costumam
ser confeccionadas nessas cores, incluindo, entre as guias e contas, no
caso de Oxóssi e, também, seus caboclos, elementos que recordem a
floresta, tais como penas e sementes.
Seus instrumentos de culto são o
ofá (arco e flecha), lanças, facas e demais objetos de caça. É um
caçador tão habilidoso que costuma ser homenageado com o epíteto "o
caçador de uma flecha só", pois atinge o seu alvo no primeiro e único
disparo tamanha a precisão. Conta a lenda que um pássaro maligno
ameaçava a aldeia e Oxossi era caçador, como outros. Ele só tinha uma
flecha para matar o pássaro e não podia errar. Todos os outros já haviam
errado o alvo. Ele não errou, e salvou a aldeia. Daí o epíteto "o
caçador de uma flecha só".
No Brasil, Ibualama, Inlè ou Erinlè é uma qualidade de Oxóssi, marido de Oxum Ipondá e pai de Logunedé. Como os demais Oxóssis é caçador, rei de Ketu e usa ofá (arco e flecha), mas se veste de couro, com chapéu e chicote.
Um Oxóssi azul, Otin,
usa capanga e lança. Vive no mato a caçar. Come toda espécie de caça,
mas gosta muito de búfalo. A curiosidade e a observação são
características das pessoas consideradas filhas de Oxóssi, orixá também
da alegria, da expansão, que gosta de agir à noite, como os caçadores.
São faladores, ágeis e de raciocínio muito rápido. Oxóssi é o arquétipo
daquele que busca ultrapassar seus limites, expandir seu campo de ação,
enquanto a caça é uma metáfora para o conhecimento, a expansão maior da
vida. Ao atingir o conhecimento, Oxóssi acerta o seu alvo. Por este
motivo, é um dos Orixás ligados ao campo do ensino, da cultura, da arte.
Nas antigas tribos africanas, cabia ao caçador, que era quem penetrava o
mundo "de fora", a mata, trazer tanto a caça quanto as folhas
medicinais. Além, eram os caçadores que localizavam os locais para onde a
tribo poderia futuramente mudar-se, ou fazer uma roça. Assim, o orixá
da caça extensivamente é responsável pela transmissão de conhecimento,
pelas descobertas. O caçador descobre o novo local, mas são os outros
membros da tribo que instalam a tribo neste mesmo novo local. Assim,
Oxóssi representa a busca pelo conhecimento puro: a ciência, a
filosofia. Enquanto cabe a Ogum
a transformação deste conhecimento em técnica. Apesar de ser possível
fazer preces e oferendas a Oxóssi para os mais diversas facetas da vida,
pelas características de expansão e fartura
desse orixá, os fiéis costumam solicitar o seu auxílio para solucionar
problemas no trabalho e desemprego. Afinal, a busca pelo pão-de-cada
dia, a alimentação da tribo costumeiramente cabe aos caçadores.
Lenda
Oxóssi aprende com Ogun a arte da caça.
Oxóssi
é irmão de Ogun. Ogun tem pelo irmão um afeto especial. Num dia em que
voltava da batalha, Ogun encontrou o irmão temeroso e sem reação,
cercado de inimigos que já tinham destruído quase toda a aldeia e que
estavam prestes a atingir sua família e tomar suas terras. Ogun vinha
cansado de outra guerra, mas ficou irado e sedento de vingança. Procurou
dentro de si mais forças para continuar lutando e partiu na direção dos
inimigos. Com sua espada de ferro pelejou até o amanhecer. Quando por
fim venceu os invasores, sentou-se com o irmão e o tranqüilizou com sua
proteção. Sempre que houvesse necessidade ele iria até seu encontro para
auxiliá-lo. Ogun então ensinou Oxóssi a caçar, a abrir caminhos pela
floresta e matas cerradas. Oxóssi aprendeu com o irmão a nobre arte da
caça, sem a qual a vida é muito mais difícil. Igun ensinou Oxóssi a
defender-se por si próprio e ensinou Oxóssi a cuidar da sua gente. Agora
Ogun podia voltar tranquilo para a guerra. Ogun fez de Oxóssi o
provedor.
Oxóssi é o irmão de Ogun. Ogun é o grande guerreiro. Oxóssi é o grande caçador.
Ossain
Osanyin é a entidade das folhas sagradas, ervas medicinais e litúrgicas, identificado no jogo do merindilogun pelo odu iká e representado materialmente e imaterial pela cultura Jeje-Nago, através do assentamento sagrado denominado igba ossaim. Sua importância é primordial. Nenhuma cerimônia pode ser realizada sem sua interferência. O seu sacerdote é o Babá Olosayin.
Ossaniyn, Ossaim, Ossãe, Ossain (como se escreve habitualmente), ou Ossanha (na Umbanda) que é o Orixá das ervas, no candomblé Jeje é chamado de Agué é o Vodun da caça e das florestas e conhece os segredos das folhas, no Candomblé Bantu é chamado de Katendê, Senhor das insabas (folhas). Seria de ambos os sexos assim como Oxumarê, segundo alguns pesquisadores 6 meses seria homem e 6 meses seria mulher. Ossaniyn, Oxumarê e Obaluayê são filhos de Nanã com Oxalá.
Comanda as folhas medicinais e litúrgicas, chamadas de folha sagrada, que são utilizadas numa mistura especial chamada de abô.
Muitas vezes, é representado com uma única perna. Cada orixá tem a sua
folha, mas só Ossaim detém seus segredos. E sem as folhas e seus
segredos não há axé, portanto sem ela nenhuma cerimônia é possível.
Lenda
Ossain dá uma folha para cada Orixá.
Ossain,
filho de Nanã e irmão de Oxumarê, Euá e Obaluayê, era o senhor das
folhas, da ciência e das ervas, o orixá que conhece o segredo da cura e o
mistério da vida. Todos os orixás recorriam a Ossain para curar
qualquer moléstia, qualquer mal do corpo. Todos dependiam de Ossain na
luta contra a doença. Todos iam à casa de Ossain oferecer seus
sacrifícios. Em troca Ossain lhes dava preparados mágicos: banhos, chás,
infusões, pomadas, abô, beberagens. Curava as dores, as feridas, os
sangramentos; as disenterias, os inchaços e fraturas; curava as pestes,
febres, órgãos corrompidos; limpava a pele purulenta e o sangue pisado;
livrava o corpo de todos os males. Um dia Xangô, que era o deus da
justiça, julgou que todos os Orixás deveriam compartilhar o poder de
Ossain, conhecendo o segredo das ervas e o dom da cura. Xangô sentenciou
que Ossain dividisse suas folhas com os outros Orixás. Mas Ossain
negou-se a dividir suas folhas com os outros Orixás. Xangô então
ordenou que Iansã soltasse o vento e trouxesse ao seu palácio todas as
folhas das matas de Ossain para que fossem distribuídas aos Orixás.
Iansã fez o que Xangô determinara. Gerou um furacão que derrubou as
folhas das plantas e as arrastou pelo ar em direção ao palácio de Xangô.
Ossain percebeu o que estava acontecendo e gritou: "Euê Uassá!". "As
folhas funionam!"
Ossain ordenou às folhas que voltassem às suas
matas e as folhas obedeceram às ordens de Ossain. Quase todas as folhas
retornaram para Ossain. As que já estavam em poder de Xangô perderam o
Axé, perderam o poder da cura.O Orixá Rei, que era um orixá justo,
admitiu a vitória de Ossain. Entendeu que o poder das folhas devia ser
exclusivo de Ossain e que assim devia permanecer através dos séculos.
Ossain, contudo, deu uma folha para cada Orixá, deu uma euê para cada um
deles. Cada folha com seus axés e seus efós, que são as cantigas de
encantamento, sem as quais as folhas não funcionam. Ossain distribuiu as
folhas aos orixás para que eles não mais o invejassem. Eles também
podiam realizar proezas com as ervas, mas os segredos mais profundos ele
guardou para si. Ossain não conta seus segredos para ninguém, Ossain
nem mesmo fala. Fala por ele seu criado Aroni. Os Orixás ficaram gratos a
Ossain e sempre o reverenciam quando usam as folhas.
Oxumarê
É a cobra-arco-íris em nagô,
é a mobilidade, a atividade, uma de suas funções é a de dirigir as
forças que dirigem o movimento. Ele é o senhor de tudo que é alongado. O
cordão umbilical que está sob o seu controle, é enterrado, geralmente com a placenta, sob uma palmeira que se torna propriedade do recém-nascido, cuja saúde dependerá da boa conservação dessa árvore. Ele representa também a riqueza e a fortuna, um dos benefícios mais apreciados no mundo dos iorubás. Em alguns pontos se confunde com o Vodun Dan da região dos Mahi.
É o símbolo da continuidade e da permanência, algumas vezes, é representado por uma serpente
que morde a própria cauda. Oxumarê é um orixá completamente masculino,
porém algumas pessoas acreditam que ele seja macho e fêmea, porém o
orixá feminino que se iguala a Oxumarê é Ewá sua irmã gêmea que tem
dominios parecidos com o dele. Enrola-se em volta da terra para impedí-la de se desagregar. Rege o príncipio da multiplicidade da vida, transcurso de múltiplos e variados destinos. De múltiplas funções, diz-se que é um servidor de Xangô, que seria encarregado de levar as águas da chuva de volta para as nuvens através do arco-íris.
É o segundo filho de Nanã, irmão de Osanyin, Ewá e Obaluayê, que são vinculados ao mistério da morte e do renascimento. Seus filhos usam colares de búzios entrelaçados formando as escamas de uma serpente que tem o nome de Brajá, usam também o Lagdigbá como Nanã e Omolu.
Lenda
Entre o Céu e a Terra
Oxumare,
filho de Nana e Orixalá, recebeu de Olorun uma missão muito especial e
importante para dar continuidade ao processo de criação e renovação da
natureza. Sua tarefa consistia em carregar, dentro de suas cabaças, toda
água da Terra de volta para o céu. Era uma tarefa árdua e interminável,
pois, nem bem ele enchia as nuvens, a água já começava a escorrer,
molhando tudo novamente.
Ele não tinha tempo a perder, mas, numa
dessas viagens, parou para olhar a Terra e viu um imenso lugar, onde
tudo era extraído da lama. Estava faltando alguma coisa para dar mais
alegria ao lugar.
O próprio Oxumare já tinha colocado em movimento
todos os seres criados, como Olorun havia ordenado, mas ainda não
bastava, tudo parecia muito igual e sem vibração.
Ele resolveu,
então, pedir a Deus que o ajudasse a encontrar uma maneira de trazer
mais felicidade para a Terra, e Olorun concedeu a ele a realização desse
desejo.
Quando estava carregando água, sem querer, deixou cair
algumas gotas pelo caminho. De repente, formou-se um arco colorido, de
uma beleza incrível.
Aquele arco mostrava as cores do universo, e,
através dele e de suas infinitas combinações, Oxumare poderia colorir
toda a Terra com diversos matizes, tornando-a mais alegre e vibrante.
A
partir de então, formou-se uma aliança entre Deus (Olorun) e os seres
criados, que sempre poderia ser vista quando as águas do céu
encontrassem a luz do sol.
O arco-íris tornou-se, também, símbolo desse Orixá, que gosta de movimento e harmonia em todas as coisas.
Obaluayê
Obaluaye em iorubá Obàlúwàiyé é traduzido por (rei e senhor da terra), Oba (rei) aiyê (terra), Obaluaiyê, Obaluaê, Xapanã, Omolu, são alguns dos nomes como é conhecido esse Orixá africano. Os orixás Nanã (cujo emblema é o Ibiri) e seus filhos Obaluaiyê (cujo emblema é o Xaxará) e Oxumaré (cujo emblema é uma cobra) pertencem ao Panteão da Terra. Obaluaye é identificado no jogo do merindilogun pelos odu Irosun, Ossá, Êjilobon e representado materialmente e imaterial pelo candomblé, através do assentamento sagrado denominado igba obaluaye.
Lenda
Omolú ganha pérolas de Yemanjá
Omolú
foi salvo por Yemanjá quando sua mãe, Nanã Buruku, ao vê-lo doente,
coberto de chagas, purulento, abandonou-o numa gruta perto da praia.
Yemanjá recolheu Omolú e o lavou com a água do mar, o sal da água secou
sua feridas, Omolú tornou-se um homem vigoroso, mas ainda carregava as
cicatrizes, as marcas feias da varíola. Yemanjá confeccionou para ele
uma roupa toda de ráfia, e com ela ele escondia as marcas de suas
doenças, ele era um homem poderoso, andava pelas aldeias e por onde
passava deixava um rastro ora de cura, ora de saúde, ora de doença, Mas
continuava sendo um homem pobre.
Yemanjá não se conformava com a pobreza do filho adoptivo, Ela pensou:
“Se
eu dei a ele a cura, a saúde, não posso deixar que seja sempre um homem
pobre”. Ficou imaginando quais riquezas, poderia da a ele. Yemanjá era a
dona da pesca, tinha os peixes, os polvos, os caramujos, as conchas, os
corais, tudo aquilo que dava vida ao oceano pertencia a sua mãe,
Olocum, e ela dera tudo a Yemanjá.
Yemanjá resolveu então ver suas
jóias tinha algumas, mas enfeitava-se mesmo era com algas, ela
enfeitava-se com água do mar, vestia-se de espuma, ela adorava-se com o
reflexo de Oxu, a Lua.
Mas Yemanjá tinha uma grande riqueza e essa
riqueza eram as pérolas, que as ostras fabricavam para ela. Yemanjá,
muito contente com sua lembrança, chamou Omolú e lhe disse:
“De hoje em diante, és tu quem cuidas das pérolas do mar. Serás assim chamado de Jeholu, o Senhor das Pérolas”.
Por
isso as pérolas pertencem a Omolú, por baixo de sua roupa de ráfia,
enfeitando seu corpo marcado de chagas, Omolú ostenta colares e mais
colares de pérola, belíssimos colares.
Xangô
Shango ou Sango, é Orixá, de origem Yorubá. Seu mito conta que foi Rei da cidade de Oyo, identificado no jogo do merindilogun pelos odu obará, ejilaxebora e representado materialmente e imaterial pelo candomblé, através do assentamento sagrado denominado igba xango.
Pierre Verger
dá como resultado de suas pesquisas que: Shango ou Xangô, como todos os
outros imolè (orixás e ebora), pode ser descrito sob dois aspectos:
histórico e divino.
Como personagem histórico, Xangô teria sido o terceiro Aláàfìn Òyó, "Rei de Oyo", filho de Oranian e Torosi, a filha de Elempê, rei dos tapás, aquele que havia firmado uma aliança com Oranian.
Xangô foi o quarto rei lendário de Oyo (Nigéria, África), tornado Orixá de caráter violento e vingativo, cuja manifestação são os raios e os trovões. Filho de Oranian, teve várias esposas sendo as mais conhecidas: Oyá, Oxum e Obá. Xangô é viril e justiceiro; castiga os mentirosos, os ladrões e os malfeitores. Sua ferramenta é o Oxê: machado de dois gumes. É tido como um Orixá poderoso das religiões afro-brasileiras.
Enquanto Oxossi é considerado o Rei da nação de ketu, Xangô é considerado o rei de todo o povo yorubá. Orixá do raio e do trovão, dono do fogo, foi um grande rei que unificou todo um povo. Foi ele quem criou o culto de Egungun, sendo ele um dos Orixás que exerce poder sobre os mortos. Xangô é a roupa da morte, por este motivo não deve faltar nos Egbòs de Iku e Egun, o vermelho que lhe pertence. Ao se manifestar nos Candomblés, não deve faltar em sua vestimenta uma espécie de saieta, com cores variadas e fortes, que representam as vestes dos Eguns.
Xangô
era forte, valente, destemido e justo. Era temido, e ao mesmo tempo
adorado. Comportou-se em algumas vezes como tirano, devido a sua ânsia
de poder, chegando até mesmo a destronar seu próprio irmão, para
satisfazer seu desejo. Filho de Yamasse (Torosi) e de Oraniã,
foi o regente mais poderoso do povo yorubá. Ele também tem uma ligação
muito forte com as árvores e a natureza, vindo daí os objetos que ele
mais aprecia, o pilão e a gamela; o pilão de Xangô deve ter duas bocas, que representam a livre passagem entre os mundos, sendo Xangô um ancestral (Egungun). Da natureza, ele conseguiu profundos conhecimentos e poderes de feitiçaria, que somente eram usados quando necessário. Tem também uma forte ligação com Oxumaré, considerado por ele como seu fiel escudeiro.
Lenda
Xangô,
quando viveu aqui na Terra, era um grande Obá (rei), muito temido e
respeitado. Gostava de exibir sua bela figura, pois era um homem muito
vaidoso. Conquistou, ao longo de sua vida, muitas esposas, que
disputavam um lugar em seu coração. Além disso, adorava mostrar seus
poderes de feiticeiro, sempre experimentando sua força. Em certa
ocasião, Xangô estava no alto de uma montanha, testando seus poderes. Em
altos brados, evocava os raios, desafiando essas forças poderosas. Sua
voz era o próprio trovão, provocando um barulho ensurdecedor. Ninguém
conseguia entender o que Xangô pretendia com essa atitude, ficando ali
por muito tempo, impaciente por não obter resposta. De repente, o céu se
iluminou e os raios começaram a aparecer. As pessoas ficaram
impressionadas com a beleza daquele fenômeno, mas, ao mesmo tempo,
estavam apavoradas, pois nunca tinham visto nada parecido. Xangô,
orgulhoso de seu extremo poder, ficou extasiado com o acontecimento. Não
parava de proferir palavras de ordem, querendo que o espetáculo
continuasse. Era realmente algo impressionante! Foi, então, que, do alto
de sua vaidade, viu a situação fugir ao seu controle. Tentou voltar
atrás, implorando aos céus que os raios, que cortavam a Terra como
poderosas lanças, desaparecessem. Mas era impossível – a natureza havia
sido desafiada, desencadeando forças incontroláveis! Xangô correu para
sua aldeia, assustado com a destruição que provocara.
Quando chegou
perto do palácio, viu o erro que cometera. A destruição era total e,
para piorar a situação, todos os seus descendentes haviam morrido. Ao
ver que o rei estava muito perturbado, seu próprio povo tentou
consolá-lo com a promessa de reconstruir a cidade, fazendo tudo voltar
ao que era antes. Xangô, sem dar ouvidos a ninguém, foi embora da
cidade. Ele não suportou tanta dor e injustiça, retirando-se para um
lugar afastado, para acabar com sua vida. O rei enforcou-se numa
gameleira. Oyá, quando soube da morte de seu marido, chorou
copiosamente, formando o rio Niger. Ela, que tinha conhecimento do reino
dos eguns, foi até lá para trazer seu companheiro da morte, que veio
envolto em panos brancos e com o rosto coberto por uma máscara de
madeira, pois não podia ser reconhecido por Ikú, o Senhor da Morte.
Xangô ressurge dos mortos, tornando-se um ser encantado. E foi assim que
surgiu uma nova forma, ou qualidade, desse orixá, a qual chamamos Airá.
Essa variação da essência de Xangô adotou, além do vermelho, a cor
branca.
Logun Ede
No
entanto, existem outras versões acerca de sua filiação. Se na maioria
dos mitos, Logunedé surge como filho de Oxum e Oxóssi, em outros, um
pouco mais raros, aparece como filho de Ogun e Iansã. Há, ainda,
histórias que contam a lenda de Logunedé como filho desses quatro
Orixás, apresentando-o como nada mais, nada menos que uma representação
dos Orixás Gêmeos, Ibeji.
Simultaneamente
caçador e pescador, Logunedé é o herdeiro dos axés de Oxum e Oxóssi que
se fundem e se mesclam como mistério da criação, trata-se de um orixá
que tem a graça, a meiguice e a faceirice de Oxum à alegria, à expansão
de Oxóssi. Se Oxum confere a Logunedé axés sobre a sexualidade, a
maternidade, a pesca e a prosperidade, Oxóssi lhe passa os axés da
fartura, da caça, da habilidade, do conhecimento.
Essa característica
de unir o feminino de Oxum ao masculino de Oxóssi, muitas vezes o leva a
ser representado como uma criança, um menino pequeno ou adolescente,
formando mais uma tríade sagrada na História das religiões. Logun-Edé
está encantado nos pequenos animais, como o coelho, o
porquinho-da-índia e os pequenos pássaros, no mato baixo, nas matas
pouco densas e principalmente nos rios, sua morada predilecta. Está
ligado às artes de pintar, esculpir, escrever, dançar, cantar; como o
seu pai Oxossi e ligado ao banho, pois também é filho de Oxum, deusas
das águas doces.
Lenda
Logun Edè é salvo das águas
Logun
Edè era filho de Oxóssi com Oxun. Era príncipe do encanto e da magia.
Oxóssi e Oxum eram dois Orixás muito vaidosos. Orgulhosos, eles viviam
às turras. A vida do casal estava insuportável e resolveram que era
melhor separar. O filho ficaria metade do ano nas matas com Oxóssi e a outra metade com Oxun no rio. Com isso, Logun se tornou uma criança de personalidade dupla: cresceu metade homem, metade mulher.
Oxun
proibiu Logun Edè de brincar nas águas fundas, pois os rios eram
traiçoeiros para uma criança de sua idade. Mas Logun era curioso e
vaidoso como os pais. Logun nào obedecia à mãe. Um dia Logun nadou rio
adentro, para bem longe da margem. Obá, dona do rio,para vingar-se de
Oxum, com quem mantinha antigas querelas, começou
a afogar Logun. Oxum ficou desesperada e pediu a Orunmilá que lhe
salvasse o filho, que a amparasse nos eu desespero de mãe. Orunmilá que
sempre atendia à filha de Oxalá, retirou o príncipe das águas
traiçoeiras e o trouxe de volta à terra. Então deu-lhe a missão de
proteger os pescadores e a todos que vivessem das águas doces. Dizem que
Oiá foi quem retirou Logun Edè da água e terminou de criá-lo juntamente com Ogun.
Oxaguiã
Oxaguian ou Oxaguiã: Divindade Yorubá, cultuado no Candomblé afro-brasileiro.
Segundo
a mitologia Yorubá, o universo foi criado por Olorum. Os filhos de
Olorum são os Orixás, que receberam cada qual atribuições e
responsabilidades sobre a criação de seu Pai. O primeiro e mais velhos
dos Orixás é Oxalá, a quem se credita a criação do Homem. Oxaguian é
apontado como o aspecto jovem de Oxalá, outras vezes é apontado como
filho de Oxalufã, o qual é tido como o aspecto velho de Oxalá. Oxaguian,
"o moço", na sua forma "guerreira" de Oxalá, carrega uma espada, cheio
de vigor e nobreza. Na mitologia Yorubá, os Orixás associam-se a cidades
ou regiões africanas, que seriam regidas ou favorecidas por seu
respectivo Orixá. Seu templo principal é em Ejigbo, onde ostenta o
título de Eléèjìgbó, ou Rei de Ejigbo. Orixá do dinamismo e movimento
construtivo, da cultura material. Seu domínio são as lutas diárias por
sustento e trabalho e a paz. Oxaguian incentiva o trabalho e a
superação. Oxaguian é o provedor, é o guerreiro da paz. Nunca entra numa
batalha para perder, sempre ganhando suas lutas e superando quaisquer
obstáculos.
É sempre retratado como um guerreiro forte, astuto e
conquistador, Oxaguian rege as inovações, a busca pelo aprimoramento, o
inconformismo. É um Orixá relacionado com o sustento do dia a dia,
gostando de mesa farta. Seu sustento vem do fundo da terra ou da
floresta. Ele detém todas as armas e as usa para alcançar seus
objetivos, que são: dar para quem tem fome e até tomar de quem tem muito
e não tem fome.
Sua comida favorita é o inhame. Sendo orixá das
inovações e invenções, criou para si o pilão, de tal forma que pudesse
saborear seu prato favorito. Daí inclusive deriva seu nome: Oxaguian
significa literalmente “Orixá comedor de Inhame Pilado”. Diz-se que
enquanto Ogum fornece meios (ferramentas e armas) Oxaguian fornece
inteligência e vontade para vencer. Representa o início de um movimento.
Este orixá tem personalidade violenta e severa.
É com Oxaguian que se encerra o ciclo das festas de Oxalá com a festa do Pilão de Oxaguian (ojó odo)- o dia do pilão.
Lenda
....O comedor de inhame
Oxaguiã
não tinha ainda este nome. Chegou num lugar chamado Ejigbô e aí
tornou-se Elejigbô (Rei de Ejigbô). Oxaguiã tinha uma grande paixão por
inhame pilado, comida que os iorubás chamam iyan. Elejigbô comia deste
iyan a todo momento; comia de manhã, ao meio-dia e depois da sesta;
comia no jantar e até mesmo durante a noite, se sentisse vazio seu
estômago! Ele recusava qualquer outra comida, era sempre iyan que devia
ser-lhe servido. Chegou ao ponto de inventar o pilão para que fosse
preparado seu prato predileto!
Impressionados
pela sua mania, os outros orixás deram-lhe um cognome: Oxaguiã, que
significa “Orixá-comedor-de-inhame-pilado”, e assim passou a ser
chamado. Awoledjê, seu companheiro, era babalaô, um grande advinho, que o
aconselhava no que devia ou não fazer. Certa ocasião, Awoledjê
aconselhou a Oxaguiã oferecer: dois ratos de tamanho médio; dois peixes,
que nadassem majestosamente; duas galinhas, cujo fígado fosse bem
grande; duas cabras, cujo leite fosse abundante; duas cestas de
caramujos e muitos panos brancos. Disse-lhe, ainda, que se ele seguisse
seus conselhos, Ejigbô, que era então um pequeno vilarejo dentro da
floresta, tornar-se-ia, muito em breve, uma cidade grande e poderosa e
povoada de muitos habitantes.Depois disso Awoledjê partiu em viagem a
outros lugares. Ejigbô tornou-se uma grande cidade, como previra
Awoledjê. Ela era rodeada de muralhas com fossos profundos, as portas
fortificadas e guardas armados vigiavam suas entradas e saídas. Havia um
grande mercado, em frente ao palácio, que atraía, de muito longe,
compradores e vendedores de mercadorias e escravos. Elejigbô vivia com
pompa entre suas mulheres e servidores. Músicos cantavam seus louvores.
Quando falava-se dele, não se usava seu nome jamais, pois seria falta de
respeito. Era a expressão Kabiyesi, isto é, Sua Majestade, que deveria
ser empregada. Ao cabo de alguns anos, Awoledjê voltou. Ele desconhecia,
ainda, o novo esplendor de seu amigo. Chegando diante dos guardas, na
entrada do palácio, Awoledjê pediu, familiarmente, notícias do
“Comedor-de-inhame-pilado”. Chocados pela insolência do forasteiro, os
guardas gritaram: “Que ultraje falar desta maneira de Kabiyesi! Que
impertinência! Que falta de respeito!” E caíram sobre ele dando-lhe
pauladas e cruelmente jogaram-no na cadeia.Awoledjê,
mortificado pelos maus tratos, decidiu vingar-se, utilizando sua magia.
Durante sete anos a chuva não caiu sobre Ejigbô, as mulheres não
tiveram mais filhos e os cavalos do rei não tinham pasto. Elejigbô,
desesperado, consultou um babalaô para remediar esta triste situação.
“Kabiyesi, toda esta infelicidade é consequência da injusta prisão de um
dos meus confrades! É preciso soltá-lo, Kabiyesi! É preciso obter o seu
perdão!” Awoledjê foi solto e, cheio de ressentimento, foi-se esconder
no fundo da mata. Elejigbô, apesar de rei tão importante, teve que ir
suplicar-lhe que esquecesse os maus tratos sofridos e o perdoasse.
“Muito bem! – respondeu-lhe. Eu permito que a chuva caia de novo,
Oxaguiã, mas tem uma condição: Cada ano, por ocasião de sua festa, será
necessário que você envie muita gente à floresta, cortar trezentos
feixes de varetas. Os habitantes de Ejigbô, divididos em dois campos,
deverão golpear-se, uns aos outros, até que estas varetas estejam gastas
ou quebrem-se”. Desde então, todos os anos, no fim da sêca, os
habitantes de dois bairros de Ejigbô, aqueles de Ixalê Oxolô e aqueles
de Okê Mapô, batem-se todo um dia, em sinal de contrição e na esperança
de verem, novamente, a chuva cair.
Oxalufã
Considerado um Oxalá muito velho, curvado pelos anos, que anda com dificuldade e hesitação, como se estivesse atacado pelo reumatismo. Ele apoia seus passos cambaleantes sobre um paxorô (ou opaxorô), grande bastão de metal branco, encimado pela imagem de um pássaro e ornado por discos de metal e pequenos sinos. Considerado como o Orixá da Paz, da paciência, tudo que se refere à Oxalá é ligado a calma e a tranquilidade. Sua cor é o branco e seus filhos não podem usar roupa preta, vermelha e tons escuros. Seu dia da semana é a sexta-feira, e por respeito ao pai mais velho, todo povo-de-santo usa branco nesse dia. Sua dança é lenta como o passo do Igbin.
O Igbin, que é chamado o boi de Oxalá, é sua oferenda favorita juntamente com o Ebô. E Igbin também é o nome do toque dedicado à Oxalá. E As Águas de Oxalá é a sua principal festa realizada sempre no mês de janeiro nas principais casas tradicionais da Bahia.
Lenda
A criação da Terra
Olorun,
Deus supremo, criou um ser, a partir do ar (que havia no início dos
tempos) e das primeiras águas. Esse ser encantado, que era todo branco e
muito poderoso, foi chamado Oxalá. Logo em seguida, criou um outro
orixá que possuía o mesmo poder do primeiro, dando-lhe o nome de
Nana. Os dois nasceram da vontade de Olorun de criar o universo. Oxalá
passou a representar a essência masculina de todos os seres, tornando-se
o lado direito de Olorun. Nanan, por sua vez, teria a essência
feminina, e representaria o lado esquerdo. Outros orixás também foram
criados, formando-se um verdadeiro exército a serviço de Olorun, cada um
com uma função determinada para executar os planos divinos. Exú foi o
terceiro elemento criado, para ser o elo de ligação entre todos os
orixás, e deles com Olorun. Tornou-se costume prestar-lhe homenagens
antes de qualquer outro, pois é ele quem leva as mensagens e carrega os
ebós. Olorun confiou à Oxalá a missão de criar a Terra, investindo-o de
toda a sabedoria e poderes necessários para o sucesso dessa importante
tarefa. Deu a ele uma cabaça contendo todo axé que seria utilizado.
Oxalá, orgulhoso por ter recebido tamanha honraria, achou desnecessário
fazer as oferendas a Exú. Exú, vendo que Oxalá partira sem lhe fazer as
oferendas, previu que a missão não seria cumprida, pois, mesmo com a
cabaça e toda a força do mundo, sem a sua ajuda não conseguiria chegar
ao local indicado por Olorun.
A caminhada era longa e difícil, e
Oxalá começou a sentir sede, mas, devido à importância de sua missão,
não podia se dar ao luxo de parar para beber água. Não aceitou nada do
que lhe foi oferecido, nem mesmo quando passou perto de um rio
interrompeu a sua jornada. Mais à frente, encontrou uma aldeia, onde lhe
ofereceram leite de cabra para saciar sua sede, que também foi
recusado. Todos os caminhos pareciam iguais e, depois de andar por muito
tempo, sentiu-se perdido. De repente, ele avistou uma palmeira muito
frondosa, logo à sua frente, Oxalá, já delirando de tanta sede, atingiu o
tronco da palmeira com seu cajado, sorvendo todo o líquido que saía de
suas entranhas (era vinho de palma). Embriagado pela bebida, desmaiou
ali mesmo, ficando desacordado por muito tempo.
Exú avisou Nana que
Oxalá não havia feito as oferendas propiciatórias, por isso não
terminaria sua tarefa. Ela, agindo por contra própria, resolveu
consultar um babalawô para realizar devidamente as oferendas. O
sacerdote enumerou uma série de coisas que ela deveria oferecer, entre
elas um camaleão, uma pomba, uma galinha com cinco dedos e uma corrente
com nove elos. Exú aceitou tudo, mas só ficou com a corrente, devolvendo
o restante à Nanan, pois ela iria precisar mais tarde. Outros
sacrifícios foram realizados, até que Olorun a chamou para procurar
Oxalá, que havia esquecido o saco da criação com o qual criaria a Terra.
Nana, após terminar suas oferendas, foi atrás de Oxalá, encontrando-o
desacordado próximo ao local onde deveria chegar. Ao
saber que Oxalá havia falhado em sua missão, Olorun ordenou que a
própria Nanan prosseguisse naquela tarefa com a ajuda de todos os
orixás. E assim foi feito. Nana pegou o saco da criação e o entregou à
pomba, para que voasse em círculo. A galinha com cinco dedos foi solta,
para espalhar aquela imensa quantidade de terra, e, finalmente, o
camaleão arrastou-se vagarosamente, para compactá-la e torná-la firme.
Quando Oxalá acordou, viu que a Terra já havia sido criada, e não o fora
por ele. Desesperado, correu até Olorun, que o advertiu duramente por
não ter reverenciado Exú antes de partir, julgando-se superior a ele.
Oxalá, arrependido, implorou perdão. Olorun, sempre magnânimo, deu-lhe
uma nova e importantíssima tarefa, que seria a de criar todos os seres
que habitariam a Terra. Desta vez ele não poderia falhar! Usando a mesma
lama que criou a Terra, Oxalá modelou todos os seres, e,
insuflando-lhes seu hálito sagrado, deu-lhes a vida. Desta forma, Nana e
Oxalá desempenharam tarefas igualmente importantes, juntamente com a
valiosa ajuda de todos os orixás, que possibilitaram o surgimento deste
novo e maravilhoso mundo em que vivemos.
Ogum dá ao homem o segredo do ferro.